Jornada Afro Acadêmica de Estudos

JAAE

simbolo africano
“Símbolo do conhecimento, da aprendizagem permanente e da busca contínua do saber.”

Causa

A Jornada Afro Acadêmica de Estudos - JAAE tem por objetivo a valorização da produção acadêmica da intelectualidade negra, bem como a articulação destas produções com demandas e interesses da sociedade, sobretudo da população negra. Desenvolver, assim, a partir da multidisciplinaridade, um espaço que possibilite trocas estratégicas e de impacto social.

A motivação para a realização da JAAE surge com a observação de duas demandas compartilhadas entre pessoas negras que ingressam na universidade nos últimos anos: dividir sua produção acadêmica e refletir sobre a responsabilidade da intelectualidade negra. Diante disto, esta jornada toma lugar central no fortalecimento e estabelecimento de compromissos de cooperação e solidariedade entre tais atores sociais.

A JAAE é uma iniciativa coletiva com foco no reforço e estreitamento das relações e experiências acadêmicas entre intelectuais negras e negros. Tal proposta configura-se, assim, como locus de fortalecimento do protagonismo negro nos âmbitos acadêmico, político, econômico e cultural. Isto sob a perspectiva de experiências que as instituições de ensino superior público e privado possam proporcionar.

O estímulo ao engajamento em formulações estratégicas que emerjam da universidade e que incidam de forma qualificada no todo social, é uma das principais motivações da JAAE. Nesse sentido, através da homenagem a três intelectuais negros (Beatriz Nascimento, Guerreiro Ramos, Thereza Santos), destaca-se a conexão promovida com a luta de figuras históricas como Aquatune, Dandara, Nzinga, Luíza Mahin e Zumbi, assim como referências contemporâneas, como Cheikh Anta Diop, Marcus Garvey, Eric Willians, Carolina de Jesus, Lélia Gonzáles, entre outras.

Patronos

André Rebouças

Ciências & Tecnologias

Nome ímpar tanto para o processo de modernização do Brasil como na trajetória da luta pela abolição, André Rebouças se faz presente. Tendo um seio familiar negro atípico para a era imperial, André Rebouças e seus irmãos tiveram a oportunidade de acessar um sistema de educação de qualidade. Em 1854, André inicia sua carreira acadêmica na escola militar, posteriormente Escola Politécnica, no Largo de São Francisco de Paula, atual Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Conclui seus estudos na escola politécnica como 2ª tenente do Corpo de Engenheiros e dá prosseguimento a sua vida acadêmica na Escola de Aplicação da Praia Vermelha. Forma-se bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas, e, em 1889, galga a patente de engenheiro militar.

Entre 1861 e 1862, André, na companhia de seu irmão Antônio, constrói sua carreira em âmbito internacional, passando a estudar na Europa. Seu retorno ao Brasil é marcado com o cargo de comissionados do Estado brasileiro, onde tem como principal incumbência a vistoria e aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneas, elementos estratégicos na garantia da soberania brasileira. Dentro de sua trajetória profissional, acrescenta-se também a passagem pela guerra do Paraguai no ano de 1865, exercendo a função de engenheiro militar.

Defensor de uma visão progressista e liberal, e tendo vínculos diretos com a campanha abolicionista, André atua ao lado de grandes figuras representantes da diminuta classe média negra em ascensão durante o Segundo Reinado com Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Cruz e Souza e Machado de Assis. Dentro dessa militância abolicionista, André participa da Confederação Abolicionista, contribui na criação da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e redige o estatuto da Associação Central Emancipadora. Em sua obra Agricultura nacional, estudos econômicos: propaganda abolicionista e democrática, André Rebouças advoga que a existência de uma real emancipação e integração do negro na sociedade nacional estaria atrelada à garantia de acesso à terra.

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Beatriz Nascimento

Educação & História

Nas  temáticas e estudos  relacionados ao racismo e quilombos, não há como não citar e saudar Beatriz Nascimento. Seus trabalhos e esforços ao longo de sua vida, não só acadêmica como também artística no campo da poesia e pessoal, tendo em vista a sua vivência, reverberam para que a temática étnico-racial galgasse visibilidade social dentro do meio acadêmico e que atuasse de forma fortalecedora para o discurso e atuação  política no movimento negro.  Partindo  do eixo da corporeidade negra e a relação desses corpos com o espaço, Beatriz traz uma nova forma de olharmos e estudarmos não só a cultura negra como esses corpos em si. Utilizando como base para estudos as experiências diaspóricas, a autora trabalha com conceitos de transmigração e transatlanticidade. Circulando em um amplo campo acadêmico, Beatriz Nascimento tem passagem  em periódicos diversos, tais  como Revista de Cultura Vozes, Estudos Afro-Asiáticos e Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, também possui artigos e entrevistas a jornais e revistas de grande circulação nacional dentre eles Folhetim da Folha de S. Paulo, Isto é, Jornal Maioria Falante, Última Hora e a revista Manchete. Dentro de sua militância e através da poesia, Beatriz abre espaço para dar voz e visibilidade à experiência de ser uma mulher negra, o que concretiza uma outra esfera de militância traçada por essa grande mulher.

Sua vida acadêmica inicia-se na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ onde cursa História  entre os anos de 1968 e 1971 e em concomitância atua como estagiária no Arquivo Nacional, sendo orientada por José Honório Rodrigues. Após se graduar, começa sua trajetória lecionando como docente na rede estadual de ensino da cidade. Em paralelo com a docência, Beatriz Nascimento atua fortemente dentro da militância abordando temáticas ligadas à história e cultura negras. Milita em frentes como o Grupo de Trabalho André Rebouças, grupo este que participou desde o processo de formulação e criação de fato a partir do ano de 1974 na Universidade Federal Fluminense – UFF, no qual pôde partilhar e contribuir com a discussão da temática racial nos espaços educacionais  entre estudantes negros universitários do eixo Rio-São Paulo. No ano de 1977, participa na condição de conferencista da Quinzena do Negro, importantíssimo encontro de pesquisadores negros realizado na Universidade de São Paulo - USP.

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Carolina de Jesus

Assistência estudantil, mercado de trabalho & empregabilidade

Carolina Maria de Jesus nasceu na cidade rural de Sacramento em Minas Gerais no ano de 1914. Filha de pais analfabetos, não concluiu os estudos formais, porém desenvolveu forte gosto pela leitura desde muito jovem. Após o falecimento de sua mãe em 1937, Carolina migra para a grande cidade de São Paulo onde passa a viver na favela do Canindé, zona norte da cidade. Consegue emprego na casa de um eminente médico paulista que a permitia realizar leituras em sua biblioteca. Em 1948, engravida pela primeira vez. Em concomitância ao trabalho como catadora de lixo, escrevia diários nos quais relatava o seu duro cotidiano. A ausência de recursos, a convivência com outros moradores da favela, o trabalho catando lixo, a relação com os três filhos, as reflexões sobre a desigualdade racial e social e o anseio por mudanças são temas recorrentes em sua narrativa. Foram mais de 20 cadernos escritos por Carolina, neles haviam contos, poemas peças teatrais, músicas e romances. Tais cadernos foram descobertos e um deles, escrito em 1955, foi publicado em 1960 com o título “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”. Este livro já foi editado três vezes, possui um total de 100 mil exemplares vendidos, foi traduzido para 13 idiomas e vendido em mais de 40 países, inclusive sendo best-seller em muitos deles. Há um vasto material audiovisual acerca da trajetória de Carolina de Jesus. Muitos intelectuais se debruçaram sobre a vida e obra da escritora e produziram monografias, dissertações e livros. Um deles é “Carolina Maria de Jesus – Uma Escritora Improvável” de Joel Rufino dos Santos e publicado em 2009. Em 2005 foi inaugurada a Biblioteca Carolina Maria de Jesus no Museu Afro-Brasil no Parque Ibirapuera na capital São Paulo. Em 2014, alunos de diversos cursos da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ idealizaram e construíram o Coletivo Negro Carolina de Jesus com o intento de construir estratégias para permanência no espaço de epistemicídio que a universidade constitui para corpos negros.

Atualmente, Carolina é considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil. Há uma discussão que questiona as obras da autora quanto à sua autenticidade literária. Percebe-se intrínseco a esse debate, o racismo presente nas críticas dos literatos e no mercado editorial.

Guerreiro Ramos

Ciências Sociais Aplicadas

Guerreiro Ramos nasce no dia 13 de setembro de 1915, na Bahia. Nesse território inicia seus estudos em concomitância com a vida profissional. Ainda em solo baiano escreve suas primeiras obras literárias O Drama de ser dois e Introdução à Cultura. Guerreiro Ramos compunha o movimento integralista como também componente do centro de cultura Católico.

Muda-se para o Rio de Janeiro para estudar na Faculdade Nacional de Filosofia – FNFI em 1939, hoje o atual Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Diplomou-se em 1942 como sociólogo e no ano seguinte bacharelou-se em direito pelo mesmo Instituto. Em sua carreira consta também um período que leciona  na Universidade Federal de Santa Catarina e na Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP) que é um dos pontos traçados por Guerreiro Ramos na vida do funcionalismo público, além de passagem pela DASP – Departamento Administrativo do Serviço Público.

Em 1949, a pedido do Conselho de Colonização e Imigração, elabora, em parceria com Ewaldo Garcia, um trabalho acerca das literaturas sociológica e antropológica existentes no Brasil entre 1940 e 1949. Trata-se da primeira de uma série de pesquisas, ampliadas nos anos 50, sobre a intelectualidade brasileira, seu papel social e político e sua produção. Naquele mesmo ano, inicia sua atuação política no Teatro Experimental do Negro – TEN, movimento étnico criado no final do Estado Novo.

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Thereza Santos

Filosofia, Literatura & Arte

Nascida em 7 de julho de 1930, Thereza Santos é uma das grandes figuras negras que atuou na militância em prol da emancipação da população negra. Carioca, criada no bairro de Santa Teresa e oriunda de uma família compostas por muitos irmãos, Thereza Santos traçou sua carreira profissional em inúmeras áreas, dentre elas o magistério, o universo do samba atuando como carnavalesca, teatróloga e atriz. Tendo como temática de estudo e militância as questões  raciais e de gênero, sua vida acadêmica se inicia na Faculdade Nacional de Filosofia (atual Instituto de Filosofia e Ciências Sociais) da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e, concomitantemente, integra-se à União Nacional dos Estudantes - UNE. Passa a atuar também em outras esferas culturais entrando para o campo das artes cênicas e experimentando o teatro de rua com perspectiva no engajamento político. Thereza integrou o Teatro Experimental do Negro - TEN do Rio de Janeiro e depois no núcleo paulista. No final da década de 1960, participou como cofundadora do Centro de Cultura e Arte Negra - Cecan. Também nos anos 1960, passa a atuar no  Movimento pela Libertação dos Povos Africanos de Expressão Portuguesa. Já na década de 1970, em parceria com o sociólogo Eduardo de Oliveira, escreveu e encenou a peça teatral “E agora falamos nós”, iniciativa esta considerada uma das primeiras peças teatrais formadas por um grupo exclusivamente composto por negros e negras.

Em meados da década de 1970, foi mantida em cárcere devido a laços com o Partido Comunista Brasileiro - PCB no contexto de ditadura militar. Após isso, é exilada em busca de liberdade e passa a morar em Angola e, posteriormente, em Cabo Verde e Guiné Bissau atuando como educadora e contribuindo para a reconstrução cultural de todos esses países. Esse momento de sua vida foi consequência da perseguição política vivida por ela durante a ditadura. Enquanto guerrilheira, atuou no movimento de libertação de Guiné-Bissau e Angola. Retornou ao Brasil e retomou uma trajetória política nacional filiando-se ao PCdoB, partido no qual militou até seus últimos dias de vida. Mulher negra, revolucionária, de história ímpar, seu livro e vivência são testemunhos da relação histórica entre setores do movimento negro e a esquerda revolucionária.

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Programação

Em breve!

Edital

Inscrição

simbolo africano
“Símbolo da resistência, da dialética e do dinamismo na continuidade das coisas através das mudanças.”

Como chegar

O Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – UFRJ fica localizado na região central da cidade do Rio de Janeiro. A JAAE se propõe a receber participantes e trabalhos de todas as localidades do Brasil, não havendo assim restrição apenas para intelectuais do território fluminense. Sabendo da dificuldade de mobilidade e o gasto financeiro que uma possível viagem para a participação na Jornada proporciona, destacaremos duas possibilidades de facilitar esse processo: o ID Jovem e o Auxílio Viagem proporcionado por universidades.

Você conhece o ID jovem?

O ID Jovem é um programa do governo federal que possibilita que jovens entre 15 e 29 anos, de família com renda mensal de até dois salários mínimos, tenham acesso aos benefícios de meia-entrada em eventos artístico-culturais e esportivos, e da reserva de vagas nos veículos do sistema de transporte coletivo interestadual. Para obtê-lo, é necessário ser cadastrado no CadÚnico e ter o Número de Identificação Social (NIS). Caso não os tenha, tal cadastro deve ser realizado no Centro de Referência da Assistência Social – CRAS que atenda na região em que você reside. RG, CPF, Título de Eleitor, Comprovante de Residência e Carteira de Trabalho de todos os componentes da unidade familiar são os documentos necessários para a realização do CadÚnico. Mais informações podem ser obtidas aqui.

Você conhece o auxílio viagem?

O Auxílio Viagem é uma ajuda de custo que algumas universidades dão aos alunos que desejam viajar para apresentar trabalhos em outros estados, as vezes até em outros países. Cada universidade tem seus trâmites internos para a concessão do auxílio, então procure se informar na sua secretaria ou central de atendimento estudantil de sua universidade.

Mapa e Rotas

Quem somos

O Coletivo Negro Carolina de Jesus é formado por estudantes negras e negros na UFRJ. Fundado em 21 de março de 2014 o coletivo vem articulando o "estar universitário" e a realidade a qual vivenciamos enquanto povo negro diaspórico. Desde então construímos e somamos com processos que colocam negras e negros como agentes de sua luta histórica e cotidiana, dentro e fora do espaço acadêmico, como por exemplo, a Marcha Contra o Genocídio do Povo Negro, a Associação de Mulheres de Ação e Reação e a marcha que lembrava um ano da morte de Claudia Silva Ferreira, morte que escancara a necessidade de articulação de pessoas negras dentro da universidade, levando à oficialização do coletivo. Essa reação ao assassinato brutal de Cláudia evidencia a realidade que atravessa cada pessoa preta e as suas famílias, fora do espaço universitário. ⁠⁠⁠⁠ Dentro do ambiente acadêmico, além de participar de ações como as ocupações – da reitoria em 2015 e OCUPA IFCS em 2016 -, o coletivo foi anfitrião do EECUN – Encontro de Estudantes e Coletivos Universitários Negros (2016) e dentro da UFRJ, nos últimos anos, foi o primeiro a sugerir e realizar a Calourada Preta no inicio de cada semestre, a partir de 2014.1.

Apoio

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“Símbolo da excelência, da perfeição, do conhecimento e da qualidade superior.”

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